30 março 2012

Como avaliar uma notícia científica

Mais do que nunca, é preciso antes de divulgar, conhecer o rigor científico, das chamadas pesquisas e resultados científicos, nesta comunidade em que compartilhanos notícias sobre educação e saúde

Como avaliar uma notícia científica
Este folheto é para as pessoas que acompanham na mídia as discussões na área médica e científica em geral. Ele explica como os cientistas apresentam e avaliam as pesquisas e como os leigos podem se informar melhor sobre as notícias científicas veiculadas.
Este texto foi traduzido para o português.
O Original pode ser lido no site do SENSE ABOUT SENSE através dos links:


Resumo
  • A área científica possui um sistema para avaliar a qualidade das pesquisas antes de sua publicação. Esse sistema recebe o nome de “revisão por pares”.
  • A revisão por pares significa que outros especialistas da área avaliam o estudo científico em termos de validade, relevância e originalidade -- além de clareza.
  • Os editores das revistas científicas contam com um grupo grande de especialistas nas mais diversas áreas para analisar minuciosamente os estudos recebidos antes de decidir se publicá-los.
  • Muitas notícias científicas que saem nos jornais e revistas aparecem na internet ou são veiculadas na televisão e no rádio não foram publicadas em periódicos com revisão por pares.
  • Embora algumas dessas pesquisas sejam de fato confiáveis, uma boa parte é falha ou incompleta. Muitas das descobertas divulgadas, como “curas milagrosas” ou “novos perigos”, nunca são comprovadas.
  • A pesquisa que não é publicada não ajuda ninguém. Os cientistas não podem repeti-la ou usá-la, e a sociedade não pode tomar decisões sobre segurança pública – ou sobre a saúde da família, por exemplo -- baseada em estudos que podem ter falhas graves.
  • Portanto, por mais interessantes ou animadores que sejam os resultados de uma nova pesquisa médica ou científica, você deve sempre perguntar...
  • Ela foi avaliada por pares? Se não foi, por que não?
  • Se foi analisada por pares, você pode procurar se informar sobre o que outros cientistas dizem a respeito, sobre o tamanho e a abordagem do estudo e se ele faz parte de um conjunto de evidências que apontam para as mesmas conclusões.
Como avaliar uma notícia científica
                                                     
                                                      

  • Todos os dias somos bombardeados com informações científicas nos jornais, na internet, nos programas de rádio e televisão. Mas nem sempre é fácil julgar o que dizem. Como saber quando a notícia pode ser levada a sério? Como identificar o alarme falso? Às vezes os cientistas parecem fazer declarações conflitantes. Como saber no que devemos acreditar?
  • Existe um sistema usado pelos cientistas para decidir se os resultados de uma pesquisa devem ser publicados numa revista científica. Esse sistema, conhecido como “revisão por pares”, submete os estudos científicos a uma análise independente por parte de outros especialistas qualificados (os chamados “pares”) antes de decidir se devem ser divulgados.
  • A revisão por pares ajuda a julgar uma notícia científica, pois significa que a pesquisa foi examinada por outros pesquisadores e foi considerada válida, relevante e original.
  • A revisão por pares significa que as declarações feitas por cientistas em revistas científicas são criticamente diferentes de outras declarações ou informações, como aquelas veiculadas por políticos, colunistas de jornal ou militantes de uma determinada área. Ciência é muito mais do que uma mera opinião.

Breve explicação sobre a revisão por pares:
  • Quando um pesquisador, ou uma equipe de pesquisadores, termina uma etapa do seu trabalho, geralmente escreve um artigo apresentando seus métodos, resultados e conclusões. Em seguida submete o artigo para publicação em uma revista científica.
  • Se o editor da revista considerar o artigo adequado, ele o envia a outros cientistas que pesquisam e publicam na mesma área, para que eles:
  • comentem sobre a validade do estudo -- os resultados da pesquisa são confiáveis? O desenho e a metodologia são apropriados?
  • avaliem a relevância – o estudo chegou a alguma conclusão importante?• determinem a originalidade – os resultados são novos? O trabalho faz a devida referência a estudos de outros pesquisadores?
  • opinem se o artigo deve ser publicado, melhorado ou recusado (geralmente para ser submetido a outro periódico).
  • Esse sistema recebe o nome de “revisão por pares”. Os cientistas (os “pares”) que avaliam os artigos são chamados de revisores ou pareceristas.
  • Os cientistas nunca tiram conclusões definitivas apenas a partir de um artigo ou um conjunto de resultados. Eles levam em conta a contribuição da pesquisa no contexto de outros estudos e de sua própria experiência. Normalmente é necessário mais de um artigo para que os resultados sejam considerados confiáveis ou aceitos como verdade universal.
Como funcionam as publicações científicas:   
                                                    
                                                              
  • Para que haja avanços científicos, os cientistas precisam mostrar seus resultados para outros cientistas. A principal maneira de fazer isso é publicar seus estudos nas revistas científicas, que são publicações periódicas que visam ao progresso da ciência através da divulgação de novas pesquisas.
  • Os editores dessas revistas recebem muito mais artigos do que podem publicar, então usam um processo de seleção em duas etapas. Primeiro, decidem se o artigo é adequado para a sua revista. Por exemplo, algumas revistas científicas publicam somente estudos inovadores; outras são restritas a uma determinada área, como microbiologia.
  • Se o editor decide que um artigo é adequado para a sua revista, ele o encaminha para o processo de revisão por pares, que analisará se os resultados são válidos, relevantes e originais.
Financiamento e disponibilidade:
  • A maioria das publicações científicas é financiada através de assinaturas, sendo que algumas também se beneficiam de subsídios institucionais, organização de congressos e publicidade.
  • Muitas estão disponíveis na internet, e é cada vez mais comum que o conteúdo seja divulgado gratuitamente na internet após um determinado período, geralmente um ano.
  • Existem também modelos alternativos de financiamento, como quando os cientistas pagam os custos de revisão e publicação dos seus artigos, para que elesfiquem disponíveis livremente. Menos de 1% dos artigos são publicados dessa forma.
  • Você sabia que existem cerca de 21.000 revistas acadêmicas e científicas que usam o sistema de revisão por pares. Grande parte atua na área técnica, médica e científica, publicando mais de um milhão de estudos por ano.
Publicar em revistas científicas faz parte da vida do cientista, pois:
  • permite-lhe fazer contato e divulgar sua pesquisa entre pessoas que pensam de modo semelhante. Um artigo publicado é lido por cientistas do mundo todo.
  • é um registro permanente do que foi descoberto, quando e por quem – como a ata de um tribunal, só que na área científica.
  • ajuda os cientistas a promover o próprio trabalho e a ter o reconhecimento das instituições, financiadoras e outras.
  • mostra a qualidade do trabalho do cientista, já que outros especialistas o consideraram válido, relevante e original.
A propósito...
Revisão por pares de projetos de pesquisa.
  • A revisão por pares também é usada para avaliar pedidos de financiamento para pesquisa. As instituições financiadoras, como organizações beneficentes que apóiam a pesquisa médica, buscam a opinião de especialistas sobre projetos de pesquisa antes de conceder o financiamento pedido. Nesse caso a revisão por pares é usada para julgar quais são os pedidos mais válidos do ponto de vista científico e com mais probabilidade de ajudar a organização a alcançar seus objetivos.
                                                                     
Como saber se os resultados divulgados foram analisados por pares?
Nem sempre é fácil!
A referência completa a um artigo que foi submetido à revisão por pares geralmente é assim:
Fellers J H and Fellers G M (1976) Tool use in a social insect and its implications for competitive interactions. [Uso de ferramentas em insetos sociais e suas implicações para interações competitivas.] Science, 192, 70-72.
... ou assim:
Hedenfalk I, Duggan D, Chen Y, et al. Gene-expression profiles in
hereditary breast cancer. [Perfis de expressão gênica em câncer de mama hereditário.] N Engl J Med, 2001; 344: 539-48.
  • Algumas pessoas inescrupulosas usam esse formato em sites e artigos para citar estudos que não passaram pelo processo de revisão por pares. Mas felizmente isso é raro.
  • A fonte mais provável de notícias científicas são os jornais e noticiários, onde não há espaço ou interesse em dar a referência completa. Os bons jornalistas, porém, costumam indicar se a pesquisa foi publicada e mencionar o nome do periódico.
  • Você também pode procurar reportagens mais longas sobre uma dada pesquisa em outros jornais, ou em revistas de divulgação científica, também disponíveis na internet, para descobrir se a pesquisa foi publicada e onde.
  • Isso também ajuda a verificar se as informações veiculadas são um reflexo real dos resultados da pesquisa.
  • Muitas vezes os estudos científicos apresentados em congressos já começaram o processo de revisão por pares, mas os resultados são preliminares e ainda não foram publicados.
  • Quanto mais pessoas perguntarem sobre a revisão por pares, mais os repórteres se sentirão pressionados a incluir essa informação.
  • Não existe uma lista definitiva de periódicos com revisão por pares, mas você pode procurar alguns pelo nome no serviço de notícias científicas online EurekAlert! www.eurekalert.org/links.php?jrnl=A
  • No final deste folheto você encontrará outras fontes de informação sobre pesquisas científicas.
O que acontece depois da revisão por pares?
  • Quando os resultados de uma pesquisa são analisados por pares e publicados numa revista científica, isso quer dizer que são suficientemente válidos, relevantes e originais para merecerem a atenção de outros cientistas.
  • A revisão por pares é uma linha divisória importante para separar o que é científico do que é mera especulação e “achismo”. A maioria dos cientistas estabelece uma distinção clara entre seus estudos que foram analisados por pares e suas opiniões em geral.
  • Até aí tudo bem, mas e depois?
  • A publicação de um artigo submetido à revisão por pares é apenas o primeiro passo: os resultados e as teorias desenvolvidas a partir deles precisam ser testados novamente e comparados com outros estudos na mesma área. As conclusões de alguns estudos podem ser questionadas e pesquisas posteriores podem mostrar que eles precisam ser revistos, com a coleta de mais dados.
  • Assim como algumas lavadoras de roupas trazem um selo de qualidade, a revisão por pares é a garantia de qualidade na ciência. Ela informa que uma pesquisa foi realizada e apresentada segundo um padrão de qualidade avalizado por outros cientistas.
Os desafios da revisão por pares:
  • Por que não pode simplesmente existir uma lista de itens para verificar a validade científica?
  • Avaliar um artigo científico não é a mesma coisa que outorgar um selo de qualidade e segurança para um automóvel ou corrigir uma prova de matemática. As novas pesquisas costumam ter características próprias, que são difíceis de prever com uma simples lista e que exigem uma avaliação especializada no que diz respeito à validade, relevância e originalidade.
  • A revisão por pares consegue detectar os casos de fraude e má-fé?
  • A revisão por pares não é um sistema de detecção de fraudes. Os revisores podem detectar alguma ação fraudulenta, como plágio ou falsificação de dados, porque conhecem bem o assunto. Eles conhecem as pesquisas já realizadas na área e os tipos de resultados esperados. No entanto, se alguém tentou deliberadamente falsificar dados, às vezes não há como descobri-lo até que o estudo seja publicado e outras pessoas da comunidade científica comecem a avaliar a pesquisa e a repeti-la.
As correntes científicas dissidentes são rejeitadas através da revisão por pares?
  • Às vezes as pessoas temem que ideias novas não serão aceitas por outros cientistas (embora isso também sirva como desculpa quando os pesquisadores não querem se submeter à avaliação de seus pares). É verdade que os revisores podem ser muito cautelosos com achados incomuns, e que ideias importantes podem não merecer a devida atenção inicialmente. Mas se uma pesquisa foi especialmente engenhosa, o mais provável é que os outros cientistas o reconheçam e a diferenciem de dados falsos ou inchados. Os editores dos periódicos gostam de ideias novas, e a publicação de artigos científicos trouxe à luz milhares de descobertas importantes.
                                                                  
Será que o processo de revisão por pares retarda o avanço do conhecimento científico e médico?
  • No nosso mundo de comunicação instantânea e divulgação de notícias 24 horas por dia, um processo deliberativo como a revisão por pares pode ser frustrante por ser muito lento. A comunicação eletrônica melhorou o processo, mas uma boa avaliação de uma pesquisa leva mesmo certo tempo. 
  • Às vezes as pessoas justificam a divulgação de descobertas não publicadas dizendo que são “importantes demais para esperar”. Entretanto, apesar de alguns estudos levarem meses para serem analisados e aperfeiçoados, no caso de uma descoberta importante o processo pode ser concluído em poucas semanas. Além disso, se os resultados forem muito importantes – por exemplo, se forem ligados à saúde pública – a revisão por pares se torna ainda mais necessária.
                                           
                                                          
Outras informações:
Sense about Science – Entendendo a ciência
Para saber mais sobre a revisão por pares, você pode visitar o site Sense About Science, onde existe uma seção dedicada ao assunto. A seção inclui download gratuito do relatório completo “Peer Review and the Acceptance of New Scientific Ideas” (“A revisão por pares e a aceitação de novas ideias científicas”) (2004), versões eletrônicas do folheto e recursos didáticos adicionais. Para solicitar mais cópias do folheto, por favor, mande um email para: publications@senseaboutscience.org Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
ou ligue: 00 (operadora) 44 (0) 20 7478 4380 www.senseaboutscience.org/peerreview
Association of Medical Research Charities: a associação de auxílio à pesquisa possui uma página em seu site sobre a revisão por pares de pedidos de auxílio: www.amrc.org.uk/temp/Aboutsppeerspreview.doc
Committee on Publication Ethics: O COPE oferece um fórum para editores de periódicos científicos discutirem como lidar com violações de ética em pesquisas e publicações: www.publicationethics.org.uk
The National Electronic Library for Health: a Biblioteca Eletrônica Nacional de Saúde possui um arquivo chamado ‘Hitting the Headlines’, que analisa as notícias e reportagens médicas e fornece as evidências científicas nas quais se baseiam: www.nelh.nhs.uk/hth/archive.asp
The Science Media Centre: o Centro de Mídia Científica publicou um folheto chamado “Peer Review in a Nutshell” (“A revisão por pares em poucas palavras”), que é um guia para cientistas que querem se preparar para dar entrevistas na Mídia www.sciencemediacentre.org/peer_review.htm
Agradecimentos :
Este folheto foi produzido e distribuído com o patrocínio e a ajuda de:
Sense About Science agradece a contribuição dos patrocinadores, das diversas organizações (principalmente Cancer Research UK, Asthma UK, Migraine Trust and Action Medical Research), de parlamentares, autoridades do governo, instituições de ensino, professores, estudantes, médicos, farmacêuticos, conselhos científicos e de inúmeras outras pessoas e instituições. A responsabilidade pelo conteúdo é inteiramente da Sense About Science.
Capa da The Lancet, vol. 366, No. 9487, 27 agosto 2005, publicada com permissão da Elsevier.
Capa da Science reimpressa com permissão da AAAS.
© Sense about Science 2005
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