25 maio 2012

Boa forma mental na meia idade e além


Não faz muito tempo que era senso comum pensar que uma pessoa era produtiva somente até os 40 anos de idade, como se a capacidade intelectual, criatividade e inovação tivessem prazo de validade. Da mesma forma, acreditava-se que os neurônios simplesmente morriam sem serem renovados, ou que a capacidade de aprendizado era perdida ao longo dos anos.

                   Eric R.Kandel neurocientita - premio nobel - estudos sobre a memória
É claro que algumas habilidades diminuem quando se envelhece, mas algumas pessoas são melhores em retardar essas perdas do que outras. E pesquisadores querem entender o porquê. Por que seu vizinho de 70 anos consegue ter uma memória igual à de uma pessoa com metade dessa idade, enquanto seu parente de 40 anos tem a memória de um idoso?

De acordo com pesquisas recentes, um elemento essencial para a boa forma mental já foi identificado. A educação parece ser um elixir que pode proporcionar mente e corpo saudáveis ao longo da vida adulta e também uma vida mais longa. Para aqueles que estão na meia idade ou além, um diploma de faculdade parece retardar o processo de envelhecimento cerebral em até uma década.

Essa é uma das descobertas de um estudo enorme que está sendo conduzido nos EUA desde os anos 90, chamado de MIDUS (sigla para Meia Idade nos Estados Unidos). O que torna esse estudo particularmente valioso é que os pesquisadores podem rastrear a mesma pessoa por um longo período de tempo para ver quais habilidades estão piorando e quais estão melhorando.

Muitos pesquisadores acreditam que a inteligência humana consiste em dúzias de habilidades cognitivas variadas, as quais eles geralmente dividem em duas categorias: inteligência fluida e inteligência cristalizada.

As habilidades que caem na categoria de “inteligência fluida” são aquelas que produzem soluções não baseadas em experiência, como reconhecimento de padrões, memória de trabalho e raciocínio abstrato, justamente o tipo de inteligência avaliada nos testes de QI. Essas habilidades tendem atingir seu pico entre os 20 e 30 anos de idade.

Por outro lado, a “inteligência cristalizada” geralmente se refere às habilidades que são adquiridas através da experiência e educação, como habilidade verbal, raciocínio indutivo e julgamento. Enquanto a inteligência fluida é por muitos considerada principalmente um produto da genética, a inteligência cristalizada é mais dependente de influências diversas, como personalidade, motivação, oportunidade e cultura.

Num estudo publicado nos últimos anos, pesquisadores provaram que, quando se trata de sabedoria, a experiência pode ser mais importante que a biologia, principalmente na resolução de conflitos e dilemas sociais. Eles descobriram que, apesar da queda na inteligência fluida, raciocínios complicados que envolvem pessoas, questões morais ou instituições políticas melhoram com a idade.

Voltando ao estudo MIDUS, os pesquisadores queriam saber se algo podia ser feito para frear esse aparentemente contínuo declínio da inteligência fluida ao longo dos anos. Então eles desenvolveram diversos testes de memória, cálculo e raciocínio que poderiam ser aplicados nos milhares de participantes.

Como previsto, pessoas com mais de 50 anos tiveram um pior desempenho nos testes de memória e velocidade de raciocínio do que pessoas mais jovens. O cérebro envelhecido era mais facilmente distraído e mais lento em resgatar informações. Mulheres geralmente eram melhores que os homens no teste de lembrar uma lista de palavras, enquanto que os homens eram melhores em encontrar padrões numéricos e reagir rapidamente a alterações de instruções.

Os mais consistentes resultados envolviam a educação. Igualando todos os demais fatores, quanto mais anos de escola um indivíduo tinha, melhor ele ou ela desempenhava em todos os testes mentais. Até os 75 anos de idade, os indivíduos com diploma de ensino superior conseguiam um desempenho em tarefas complexas igual a indivíduos dez anos mais jovens com menos educação. Além disso, a educação estava associada a uma vida mais longa e a um menor risco de demência.

Numa outra análise, os pesquisadores descobriram que os indivíduos podiam compensar as desvantagens educacionais. Todos os que regularmente desafiavam seus cérebros – lendo, escrevendo, assistindo palestras ou fazendo jogos – tinham um melhor desempenho em inteligência fluida do que aqueles pouco adeptos a desafiar o cérebro.

O treinamento mental regular pode realmente alterar os circuitos neurais do cérebro em qualquer idade, estimulando regiões do cérebro responsáveis por habilidades como memória, aprendizado e tomada de decisão.

Em ainda outra análise, os pesquisadores mostraram que adultos, particularmente os homens, com baixo nível de educação podiam também melhorar o desempenho mental simplesmente usando um computador.

Quando a equipe do MIDUS reuniu todos os dados, eles notaram outras semelhanças entre os indivíduos com fortes habilidades cognitivas. Idosos que desempenhavam tão bem quanto jovens adultos em inteligência fluida costumavam compartilhar, além de um diploma de ensino superior e a prática regular de exercícios mentais, as seguintes características:

    Eles faziam exercícios físicos frequentemente;

    Eles eram socialmente ativos, vendo amigos e familiares, voluntariando e participando de reuniões frequentemente;

    Eles eram melhores em se manter calmos diante de situações estressantes;

    Eles se sentiam mais em controle das suas vidas.

Numa época em que a perspectiva de uma vida mais longa é atormentada pelo medo do declínio mental, a possibilidade de termos algum controle sobre esse declínio com uma boa forma mental é reconfortante.

Acessado em 25.05.2012


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