11 outubro 2012

Em comemoração ao dia das crianças: visibilidade às deficiências como instrumento de inclusão

Mais uma vez, queremos em nosso blog dar visibilidade aos pais e seus sentimentos a respeito das deficiências de seus filhos. Esperamos que a leitura desses textos, autores, façam com que todos possamos  também identificar suas dores e anseios. E dessa forma estaremos todos mais disponíveis para lutarmos por direitos, cidadania, inclusão e desenho universal. Ou seja, todos temos direitos à ir e vir, de estar nas ruas convivendo e participando dos ritos sociais, culturais, folclóricos, religiosos, educacionais e sobretudo conviver em parques públicos, praças, esplanadas, calçadas, lojas, restaurantes, cinemas, teatros, bares, escolas e casa dos amigos.

Para tanto, temos muito a conquistar.

E que cada vez mais crianças com deficiências possam estar nas ruas, e que seus pais e familiares não sintam a dor da indiferença, da segregação, do desprezo, do preconceito, da rejeição, ou até do medo que outras pessoas sentem por desconhecimento do assunto.

Neste próximo dia 12 de Outubro, dia da criança, que as crianças com deficiências possam estar em todos os lugares que devem estar: integradas à nossa sociedade, sendo como todas crianças, simplesmente crianças.

Segue abaixo a matéria do Portal a TARDE



AUTORES RECORREM A ESCRITA COMO FORMA DE LIDAR COM A DOR
Mariana Paiva

"Era uma noite paulistana. Todas as moças já haviam se recolhido para dentro depois do passeio da tarde, mas quem passasse pela calçada da rua Riachuelo podia ver a luz fraca de vela na janela de uma das casas. Insone por conta da tuberculose que o atingira nos pulmões, o poeta Álvares de Azevedo escrevia sobre amor e morte em versos que atravessariam os séculos. Os papéis à sua frente eram, antes de tudo, um meio de lidar com a doença que levaria prematuramente sua vida, aos 21 anos.

Quase dois séculos se passaram para que as livrarias de todo o país exibissem em suas vitrines o novo livro de Diogo Mainardi, A Queda: as Memórias de um Pai em 424 Passos (Record, 150 p., R$ 24,90). Na obra, o autor busca na expressão literária um modo de lidar com a paralisia cerebral do filho mais velho, Tito.

Novamente a literatura se coloca a serviço das catarses do escritor, agora pelo prisma do pai, que escreve amparado em toda sorte de referências: do escultor renascentista Pietro Lombardo ao poeta Ezra Pound, do arquiteto Le Corbusier ao escritor Albert Camus. Todos unidos e interligados para introduzir o autor no universo de quedas, passos em falso e conquistas diárias do filho Tito.

No dia do nascimento do menino, diante do prédio da Scuola Grande di San Marco, que abrigava o hospital público no qual Tito nasceria, sua mãe, Anna, disse que estava com medo do parto. Diogo prontamente respondeu: "Com esta fachada, aceito até um filho deforme". Horas depois, Tito nascia, e um erro de procedimento da médica determinou-lhe a paralisia cerebral. A partir daí, Diogo começa a fazer as associações em 424 pequenos capítulos, interligando fatos da vida de Tito com acontecimentos históricos e culturais que poderiam ter dado um rumo diferente à história do menino, iniciada há 12 anos.

Doutor em Literatura e Crítica Literária, o professor da Universidade Federal da Bahia Djalma Thürler considera este tipo de literatura de mão dupla: tanto funciona para o autor lidar com suas questões quanto para o leitor, que aprende com a experiência posta na obra. "Acho que os livros sempre nos dão respostas. Não tem a ver com autoajuda, mas com visitação a outros mundos, a outras subjetividades. São experiências alheias que te ajudam a compreender as suas próprias, a literatura tende a isto", afirma.

Em relação à perspectiva do autor que põe sua vivência de doença ou de superação na obra, Djalma considera: "Essas experiências são epifânicas, fazem com que esses autores mudem, promovem rasuras na linha artística. Foi assim com José Celso Martinez Correa, que mudou sua forma de fazer teatro depois da morte do irmão".

Exemplos
Outra obra que se encaixa neste perfil é A Mulher Trêmula (Companhia das Letras, 208 p., R$ 42), de Siri Hustvedt. No livro, a escritora americana busca explicações para os tremores que passam a acometer seu corpo. Para isto, ela evoca explicações no campo da neurologia, psiquiatria e psicanálise, e apresenta referências que vão de Dostoiévski a Oliver Sacks.

Em O Filho Eterno (Record, 224 páginas, R$ 34), o escritor catarinense Cristóvão Tezza se põe na obra ao falar da convivência com seu filho Felipe, portador da Síndrome de Down. Bastante polêmico por apresentar sentimentos como a vergonha que o autor por vezes sente do filho, o romance autobiográfico abre as portas do cotidiano vivido por Cristóvão e Felipe."

Nenhum comentário:

Postar um comentário