28 novembro 2013

A Terapia Ocupacional é importante no processo de reabilitação do meu filho com Paralisia Cerebral?

Segue um texto adaptado de um comentário que fiz em uma das redes sociais, onde pais e pessoas com paralisia cerebral conversavam sobre a importância das terapias de reabilitação. A polêmica estava sendo ampliada por uma pessoa adulta com paralisia cerebral que se mostrava muito preocupada com a visão de  que algumas mães estão acima de tudo só preocupadas em fazer terapias nos filhos... e que com isso seus filhos estavam sendo sobrecarregados. Porque nem sempre haveria melhoras efetivas...
Não pude deixar de postar meu comentário nessa conversa:


Lá vou eu, uma terapeuta ocupacional,  pois não sou mãe, não sou irmã, nem tenho qualquer parente com Paralisia Cerebral (PC). Apesar dessa realidade, vou expressar neste grupo minha opinião, já que faço parte do mesmo.

Trabalhei em uma escola, durante 8 anos, 10 horas por dia, 5 vezes por semana, com 55 crianças com PC, todas muito, muito graves, desde bebê até 15 anos de idade.  Essa experiência de lidar por muitas horas, trocar, alimentar, brincar, ensinar, estimular,  me fez ter uma visão bem mais realista do que aquela que eu tinha enquanto era simplesmente uma terapeuta de 30 minutos 3x. por semana, de algumas crianças.


Foto retirada do facebook Terapia Ocupacional na Prática

Mas por outro lado, justamente essa prática, mostrou-me o quanto eram importantes as terapias e também sua continuidade em casa – no caso na escola.

Até o presente momento, comprova-se que as terapias são eficazes, através de vários estudos e pesquisas. No entanto esses estudos salientam a importância dos pais complementarem essas terapias em casa – reforçando que as mesmas devam ser divertidas, regulares, e não repetitivas.  Imagino que nem sempre isso é possível.

Na verdade, há pais que fazem de tudo e seus filhos não evoluem, há pais que não fazem nada e seus filhos evoluem, e há no meio disso, todas as variações possíveis. É do conhecimento de todos que alguns casos desafiam as “regras” “os paradigmas”, e não seguem qualquer arcabouço estabelecido.
Que alguns exemplos são muito bons para alguns grupos e para outros não funcionam.

Há pais que irão mover mundos e fundos, e se não o fizerem serão infelizes. Há pais que não se importam. Há pais que se importam muito. Há muito mais mães envolvidas nesse processo, o que é muito triste, e muito poucos pais. Há bastante separações entre casais com filhos com deficiências.  
Há muito cansaço, dor na coluna, despreparo físico, crianças e pais desmotivados, crianças e pais motivados, adolescentes tristes, adolescentes alegres. Assim, não há correlações a serem feitas.

Há o conhecimento no que resulta cientificamente para uma grande maioria (mas sabendo-se que há exceção à regra) e há também muito desconhecimento.  Há falta de profissionais comprometidos e verdadeiramente empenhados em mudar o que for necessário para o bem e a melhor qualidade de vida dessas pessoas, e dos seus familiares.

Por fim há casos gravíssimos, para os quais as terapias só poderão ajudar a evitar deformidades ( que causam dor e complicações orgânicas futuras)e realizar algumas poucas atividades.  Mas há ainda assim, para essas famílias, e principalmente para essas crianças,  uma importante função que deve ser feita por mim terapeuta ocupacional, que é mediar todos na construção de uma vida familiar cheia de carinho, alegria e amor, aceitando e confortando essas crianças.

Otimismo é bom sempre. Por os pés no chão é tão necessário quanto sonhar. E ouvir os que agora já podem falar, é mais do que importante. Porque todos temos histórias para contar. Todos temos obstáculos a vencer. E não é fácil ser uma criança com paralisia cerebral, não é fácil ser um adolescente, um estudante, um adulto com paralisia cerebral. Como não é nada fácil ser pai de uma criança com paralisia cerebral.
Há muito por fazer! Muito.

E nossas crianças com paralisia cerebral deveriam  estar mais nas ruas, nos parques, nos lugares públicos, sendo apenas crianças.

Gisleine Martin Philot

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